domingo, 23 de dezembro de 2007

Insônia


Deveria estar dormindo, mas perderia tudo,
Acordado também perco, só que não perco mudo.
Nem sei ao certo o que tenho de tão valioso
Que não gostaria de ver se esvaindo,
Caindo das mãos, meu bem mais precioso.

Quem me dera ser apenas sonho,
Mas de que sonho? Estou acordado,
Pensando, sofrendo, calado e tristonho
Me sinto como todas as luzes, apagado.

E cada vez que resgato um devaneio
De um momento insensato, lisongeiro,
Penso como seria melhor e mais verdadeiro
Ter dormido para sempre, e partido ao meio
O motivo para que esse ser ao mundo veio,
Despedaçando de uma vez, meu sonho inteiro.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Um (quase) manifesto utópico


"Independência ou morte!"
Nada melhor que começar com uma grande frase de efeito, ou, melhor ainda, uma frase histórica de efeito! Uma frase que, em sua totalidade, é utópica. Mal sabia Dom Pedro, do alto de seu jegue, burrico, jumento,
mula, ou qualquer que fosse seu equino no momento, que sua frase era
a própria utopia. Explico.
A frase em si é utópica, a nossa visão sobre a cena é utópica, o ideal de liberdade e independência também é utópico, e,  além disto, como toda boa utopia, não deu totalmente certo e se estagnou em nossa memória como o quê!? Uma grande utopia.
Ela mesmo, a utopia, aquela ridicularizada pelos realistas, ignorada pelos mundanos, aceita pelos comuns (desde que dê resultados), aplaudida pelos revolucionários, e entronizada pelos sonhadores.
Difícil escrever sobre tal tema sem ser parcial, já que eu mesmo sou utópico, e adianto que não gosto da idéia de tudo permanecer como é, e é a utopia que faz as coisas se movimentarem.
Quanta coisa não teria estagnado se não fosse a idéia "maluca" de alguém?
Quem sabe se o homem tivesse se conformado com o fato de não ter asas ou nadadeiras teríamos máquinas tão incríveis de locomoção pelos ares e mares.
Se Niemeyer não tivesse se aliado à utopia comunista, quem sabe se teria feito obras tão belas e pendurado no mundo?
Aí está a beleza da utopia. É como se lançar às cegas sobre um abismo nunca antes explorado, tentando alcançar a solução para algo que jamais havia sido colocado em prática daquela maneira, e isto é mais que um devaneio, um egoísmo, uma luxúria, é como se comprometer com uma idéia de tal modo que nada feito antes faça mais sentido, mesmo que, uma vez aplicada, resulte no desastre mais absurdo e absoluto. E quem renega a utopia renega a poesia, a música, a pintura, a arquitetura, renega o amor, já que nenhum destes sobrevive ou sobreviverá sem a utopia. Poesia sem utopia é prosa, música sem ela é som, pintura se faz tela, escultura um objeto, arquitetura é engenharia, e amor, vira casamento arranjado.
Sem ela não há avanço, não há tecnologia, e, pra não acabar com o clima de exaltação absoluta, encerro, claro, com outra frase de efeito, como a outra, com os mesmos defeitos, e que resume a própria utopia: "Viva a revolução!"

sábado, 15 de dezembro de 2007

Estrela cadente


A pau e pedra, meu enorme desatino.
Um legado mal construído de fúria,
Projetado desde que era um menino,
Afogava-se o tempo todo na luxúria
De conseguir manipular seu destino.

E revelou-se, com o caos e a cegueira
Do mundo em que reinava absoluto.
Procurou sapiência sob a macieira
De onde só conseguiu o podre fruto
De ganância e de uma vida faceira.

A celebrar, no caminho, o estandarte,
E então se acabou a esperança.
De súbito, a morte, um enfarte,
E ao mundo só deixou uma herança.

Em seu túmulo, esculpida, a lápide,
Onde sobra ao menos o prestígio,
A glória daquele último vestígio,
Da rigidez de sua vida cariátide,
E da queda de seu império carolíngio.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Preces Pagãs


Quando menos se espera vem a lei,
A paixão mal resolvida, o súbito,
O desespero daquele que foi rei
E de um dia para o outro se viu súdito.

Esta força destruidora da coragem,
Que inibe o tempo todo a nossa glória,
Faz da vida um momento de estiagem
E consome a infinidade da memória.

De onde vem essa obscura imagem
Quando penso ter encontrado o caminho?
Me deparei novamente com a barragem,
Eu sou o pássaro derrubado do ninho.

Tão singelo o meu cair deste abismo,
Meu flagelo particular, meu sorriso
Fechado para esta sessão de batismo
Até que os anjos me carreguem de improviso
E me levem, junto com eles, ao paraíso.

domingo, 21 de outubro de 2007

Coisa de viado


Vou começar com uma frase típica no dia-a-dia de qualquer um que, no mínimo, pegue condução:
- "Orra mano, isso é mó coisa de viado, num vô fazê isso daí não, mós idéia de bicha!"
Quem nunca ouviu algo do tipo, de algum "malandrão"?
Fora o português, há alguma outra coisa errada nesta frase?
Alguns dirão que sim, outros que não. Uns dirão que é preconceito, e outros que não é. Não é sobre nada disto que vou escrever, e sim sobre o tal "coisa de viado". Afinal, o que é uma "coisa de viado"?
Há quem diga que maquiagem, bichinhos de pelúcia, vestidos, e tudo aquilo que remeta à alguma coisa tipicamente feminina é "coisa de viado". Com certeza esta pessoa nunca foi a nenhum ambiente gay-friendly (será?), afinal, saberia que o tipo que mais faz sucesso é o tipo macho latino, e não a bicha ploc do salto. Aliás, os gays afetados são muito discriminados, inclusive no meio gay, afinal, ser afetado é "coisa de viado", e mesmo os ditos viados não se acham tão viados quanto quem usa maquiagem e fala fino.
O que mais ocorre mundo afora é justamente isto, gente que transa com travesti toda sexta (sábado, domingo, segunda, terça...), e depois fica por aí só no "coisa de viado" pra cá, "coisa de viado" pra lá, bicha isto, bicha aquilo. Parece até vontade de se assumir uma "bicha louca do seu edi", e sair cantando I Will Survive como uma retardada na Parada Gay.
Piores são os profissionais das áreas ditas de viado. A necessidade de auto-afirmação é tanta que a cada 10 palavras desta pessoa, 11 são condenando as "atitudes gays" (sic), para não parecer bicha. Mas ninguém liga, na primeira roda de amigos todos comentarão sobre "a bichona arquiteta", e darão muita risada da profissão do amigo, que é de viado.
Mas, afinal, o que é "coisa de viado"?
Minha visão simplista só permite dizer: gostar de homem.
Mas, como a imaginação das pessoas é fértil, quem sou eu pra negar todas estas histórias?
Que continuem... C'est la vie, mona!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Os Precoces


Em todo lugar que você vá, parece sempre haver uma criança prodígio. Você liga a TV, e vê um destes pirralhos fazendo alguma coisa fantástica, como ter decorado todas as bandeiras dos países, entrevistar pessoas melhor que a Luciana Gimenez (não que seja difícil, mas...), ou ter inventado a máquina do tempo aos oito anos de idade (tá, isto já foi exagero).
Fato é que, há algum tempo (não sei quanto, mas não deve ser secular) os anjinhos têm se mostrado cada vez mais precoces. Os desenhos animados são cada vez mais violentos, e com piadas cada vez mais ácidas; os brinquedos parecem atender às necessidades de um adolescente (talvez sejam mini adolescentes mesmo); o vocabulário cada vez mais complexo, e cheio de palavrões e gírias; e a liberdade (talvez liberalismo).
As coisas andam confusas, os conceitos da educação dos filhos, o respeitar o espaço alheio, tudo anda muito desorientado. As pessoas parecem estar se adaptando a uma "vida sem receita" com passos muito lentos, e demonstram isto claramente na educação dos filhos. A verdadeira mãe deles talvez seja a televisão, e o pai, o Bob Esponja.
Vá para o supermercado, e veja um exemplo de tudo isto que estou falando. Os pimpolhos gritando pelos brinquedos, doces e quaisquer porcarias que tenham a cara do personagem preferido (claro, sem citar todas as outras situações que acontecem neste ambiente familiar) e as mamães e papais totalmente perdidos, sem saber se dão a famosa palmadinha, com medo de represálias por parte das velhinhas politicamente corretas, ou se berram com a criança, e acabam agindo da forma mais conveniente, e dão as tranqueiras que o júnior quer. Deve haver até pais endividados por aí, com as despesas do filho. Os pequenos são espertos, percebem a fraqueza de seus bondosos genitores, e repetem todas estas peripécias sempre que querem alguma coisa (isto se repete por muito tempo, por exemplo, aos dezesseis anos o filhinho pede o carro, mamãe dá (e depois é indiciada como cúmplice de homicídio culposo), ou quando a princesinha do papai engravida (e adivinhe quem vai criar a criança...)).
E pensar que tem gente que faz até tratamento pra ter filho, fora as inseminações artificiais, barrigas de aluguel e afins.
Bem, mas viva a infância! (Principalmente aquela das periferias e interiores, que ainda tem rastros das palmadas, berros, e esconde-esconde)

domingo, 7 de outubro de 2007

Felizardo


Você é um bebê, está aprendendo muito rápido, crescendo, pensando saber realmente de tudo o que o mundo tem para oferecer, mas de fato você não pensa nisto, você só sabe que o mundo é aquilo, e que tem muita curiosidade espalhada por aí.
Como uma criança inquieta, tudo parece ser interessante, grandioso, eis que você começa a perder coisas. Tomam a chupeta, matam papai noel, ensopam o coelho da páscoa, você descobre a maldade, e agora é irreversível, você foi criado pela tv. Não brinca mais de ciranda, não pula corda, seus pais não têm mais tempo, não que tivessem um dia, não que você tenha brincado de tudo isto um dia, você só sabe que aquele boneco feio que você vê na telinha é seu amigo, ele diz que é, você acredita, você não tem toda a atenção que precisa, confia.
Você diz: - Quero os brinquedos do homem vestido de dinossauro!
Seus pais te dão, pra compensar a ausência.
Você chora, bagunça, destrói toda a casa. Neste momento teve um pouco de atenção, mas ainda não foi suficiente, você percebeu, repetiu, chorou, apanhou, bateu, ganhou... Você sempre ganha!
Continua ganhando, você tira notas ruins, você é classe média. Muitos dariam tudo pra estar em seu lugar, e é isto o que você vive dizendo diante da fantasia dos desenhos animados, dos livros de Harry Potter, do mundo virtual.
E quem é você? Um cidadão do mundo, se acha um grão de areia, gostaria de ser mais importante. O futuro pra você é o mais importante. Seu presente só será bom daqui há 60 ou 70 anos, quando virar passado.
Perdeu a coragem, fumou maconha, perdeu peso, ganhou peso, perdeu o prêmio, não passou no vestibular, mas é carnaval, vamos dançar!
Casou, descasou, correu, mudou, trabalhou, perdeu mais tempo, mais tempo, mais tempo, aliás, menos tempo para você, você nunca tem tempo para nada.
Você está velho, cansado, hoje é um estorvo para seus filhos, voltou a dar trabalho, como quando era bebê. Não se cuidou, é hipertenso, diabético, tem colesterol alto, mas não toma remédios, os médicos nunca sabem de nada, mas nós sabemos, giramos, cantamos, por todos os dias, por quanto durarmos.
Humilhou gente, não pensou antes de fazer. Desejou ser imortal, mas hoje é a última coisa que quer ser. Você só quer morrer.
Seus filhos, por obrigação, vão ao seu enterro. Seus parentes fogem, preferem lembrar de você vivo, mesmo que tenham te odiado. Seus amigos somem, alguns poucos vão para garantir o pagamento daquela dívida de tantos anos.
E hoje, quem você é, ou o que você é? Finalmente o centro das atenções, pelo menos por alguns minutos, justo quando não pôde perceber. Parabéns, isto valeu sua vida toda!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Orkut


Num ímpeto de desespero acabei saíndo do Orkut.
Motivos?
Estava perdendo muito tempo com ele, e isto não estava me trazendo nenhum retorno positivo, parece que o que tinha pra aprender através dele já se foi, e não havia mais motivos pra insistir neste erro (aliás, insisti durante 9 meses, com meu último perfil, o que foi desnecessário).
Vou continuar acessando o site com algum fake, pra não me comprometer tanto, e pra não levar tão a sério algo tão banal como Orkut.
Tá, eu não vou cuspir no prato que comi, o Orkut foi importante para mim, aprendi realmente muita coisa por lá, fiz amigos, mas já não dá mais.
A gota d'água foi ver a pseudo-imagem que construí por lá arruinada de certa forma, e talvez por minha própria culpa, culpa em insistir neste erro.
Bem estranho, eu me senti despedaçado, como se dentro de mim algo tivesse se perdido, mesmo sabendo que não deveria dar tanta importância para isto.
Bom, mas antes tarde do que nunca!
O que não páro de me perguntar é: Será que estou rabugento demais?
Abraços a todos que leram!

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Onde está a verdade?


Criei o blog pra poder dizer algumas coisas que penso e sinto.
Seu nome não é em vão, afinal, é aqui que vou escrever as minhas verdades, e nada melhor para estrear do que escrever sobre ela, a verdade. Mas o que ela é, afinal? Onde ela está? Com quem? Por quê?
Eu definitivamente não sei as respostas para estas perguntas, e qualquer um que ache que sabe provavelmente está enganado.
Então, o que posso dizer sobre ela?
Bem, a verdade é uma questão de ponto de vista, e é alterável, obviamente, já que o que as origina (os tais pontos de vista) também se altera.
Talvez ela seja um conjunto de culturas e subculturas de cada mente que ronda por este mundo, afinal, por menos instruída que a pessoa seja, ela tem suas verdades e opiniões.
Verdade é que (oops, verdade é que ficou estranho, mas entenda-se que isto é verdade para mim) de tanta verdade no mundo a gente acaba se confundindo, e achando que pode ditar as regras, criar rédeas com as nossas próprias convicções. Infelizmente isto é comum, tão comum que chega a ser cotidiano o conflito de verdades. Mas, na verdade, será que este conflito não pode ser bom as vezes? Qual será o peso de uma discussão?
Acredito que um conflito de verdades pode ir, aos poucos, mudando pequenas verdades e tornando-as mais heterogêneas e seguras de si, mais convictas. É uma pena que esta convicção tão acentuada nem sempre é bem utilizada.
Embora eu não concorde com a verdade infinita e absoluta, também não concordo que as verdades de cada ser humano sejam utilizadas como pretexto para que se dissemine cada vez mais o ódio entre as pessoas, afinal, o mundo é tão heterogêneo de pessoas quanto é heterogêneo das próprias verdades, e o que seria do nosso mundo sem isto? Talvez nada.

Será que o que eu digo é verdade para você?
Abraços a todos que leram!