domingo, 7 de outubro de 2007

Felizardo


Você é um bebê, está aprendendo muito rápido, crescendo, pensando saber realmente de tudo o que o mundo tem para oferecer, mas de fato você não pensa nisto, você só sabe que o mundo é aquilo, e que tem muita curiosidade espalhada por aí.
Como uma criança inquieta, tudo parece ser interessante, grandioso, eis que você começa a perder coisas. Tomam a chupeta, matam papai noel, ensopam o coelho da páscoa, você descobre a maldade, e agora é irreversível, você foi criado pela tv. Não brinca mais de ciranda, não pula corda, seus pais não têm mais tempo, não que tivessem um dia, não que você tenha brincado de tudo isto um dia, você só sabe que aquele boneco feio que você vê na telinha é seu amigo, ele diz que é, você acredita, você não tem toda a atenção que precisa, confia.
Você diz: - Quero os brinquedos do homem vestido de dinossauro!
Seus pais te dão, pra compensar a ausência.
Você chora, bagunça, destrói toda a casa. Neste momento teve um pouco de atenção, mas ainda não foi suficiente, você percebeu, repetiu, chorou, apanhou, bateu, ganhou... Você sempre ganha!
Continua ganhando, você tira notas ruins, você é classe média. Muitos dariam tudo pra estar em seu lugar, e é isto o que você vive dizendo diante da fantasia dos desenhos animados, dos livros de Harry Potter, do mundo virtual.
E quem é você? Um cidadão do mundo, se acha um grão de areia, gostaria de ser mais importante. O futuro pra você é o mais importante. Seu presente só será bom daqui há 60 ou 70 anos, quando virar passado.
Perdeu a coragem, fumou maconha, perdeu peso, ganhou peso, perdeu o prêmio, não passou no vestibular, mas é carnaval, vamos dançar!
Casou, descasou, correu, mudou, trabalhou, perdeu mais tempo, mais tempo, mais tempo, aliás, menos tempo para você, você nunca tem tempo para nada.
Você está velho, cansado, hoje é um estorvo para seus filhos, voltou a dar trabalho, como quando era bebê. Não se cuidou, é hipertenso, diabético, tem colesterol alto, mas não toma remédios, os médicos nunca sabem de nada, mas nós sabemos, giramos, cantamos, por todos os dias, por quanto durarmos.
Humilhou gente, não pensou antes de fazer. Desejou ser imortal, mas hoje é a última coisa que quer ser. Você só quer morrer.
Seus filhos, por obrigação, vão ao seu enterro. Seus parentes fogem, preferem lembrar de você vivo, mesmo que tenham te odiado. Seus amigos somem, alguns poucos vão para garantir o pagamento daquela dívida de tantos anos.
E hoje, quem você é, ou o que você é? Finalmente o centro das atenções, pelo menos por alguns minutos, justo quando não pôde perceber. Parabéns, isto valeu sua vida toda!

2 comentários:

o Cronista disse...

quem é vc, agora?
não a mesma criança, mas ainda não um velho em desespero, acho que um jovem em desespero!
huahua

Anônimo disse...

Triste...